"O conceito de Backpacker Tourism passou despercebido até 1999 e ainda é pouco conhecido. Na prática, a figura do mochileiro quando não é tratada de forma preconceituosa é confundida com a do ecoturista ou com a do turista de aventura, o que é o um grande erro, pois são coisas totalmente diferentes. O Ecoturismo e o Turismo de Aventura são mercados fomentados por operadoras de turismo, enquanto o Backpacker Tourism é um fenômeno que ocorre de forma independente. Basicamente, mochileiros são viajantes independentes que utilizam a infra-estrutura de turismo receptivo ou estrutura própria e direcionada e chegam por conta própria em seus destinos.
No Brasil a estrutura direcionada para este público se resume na acomodação e foi a única que melhorou nos últimos 10 anos. A quantidade de hostels/albergues do Brasil aumentou consideravelmente. Um bom exemplo desse “boom” foi a cidade do Rio de Janeiro que em 1999 possuía apenas 2 albergues e hoje conta com mais de 100 unidades! É um grande avanço, mas nem só de hospedagem é feito o mercado mochileiro.
Muitos destinos interessantíssimos, grandes distâncias e uma infra-estrutura de transporte deficiente fazem do Brasil um país difícil de “ser viajado”. Isso torna cara a viagem do mochileiro, comparando-se às feitas em países geograficamente menores ou que possuem uma rede transporte eficiente, como por exemplo as ferrovias na Europa.
Se antes o turismo mochileiro era visto como uma atividade marginal, associada a drogas, aos hippies e aos aventureiros irresponsáveis, hoje, os mochileiros da Europa, Oceania e América do Norte realizam grandes viagens como uma espécie de ritual de passagem, o encerramento de um ciclo da vida pessoal, seja antes da entrada na vida universitária, na saída dela ou em um período entre empregos. Viajar emergiu como uma importante qualificação informal, uma espécie de formação educacional paralela, como uma certificação profissional através da obtenção de experiência, pois os mochileiros visam o desenvolvimento pessoal, a complementação educacional ."
- Mochileiro Contemporâneo:
"No livro de jack kerouac, que não é seu primeiro (e mais afamado) livro, “on the road”, mas seu segundo livro, “vagabundos iluminados”, onde o personagem principal tem as características do mochileiro contemporâneo: usa mochila, não viaja de carro, tem nível universitário, estica o dinheiro pra viajar mais, adora as montanhas e os locais inóspitos, é incompreendido pela família (que o pressiona pra encaixar-se no sistema) e manifesta muito interesse pelas culturas orientais e/ou exóticas. Em resumo, não um marginal, mas um deslocado: alguém que se sente bem quando viaja pois se sente estrangeiro em sua própria casa, e parece estar numa busca incessante pelo lar original perdido.
O mochileiro desafia as lógicas de territorialização e desterritorialização. ele recusa-se a fixar-se no território, embora a pressão em sentido contrário seja gigantesca. e ao exercitar essa recusa, ele também questiona o padrão de consumo da sociedade contemporânea, que privilegia marcas: ele privilegia os produtos (não adianta a mochila linda e cara que rasga ao ser arrastada numa pedra ou puxada de mal jeito pela alça pelo funcionário de uma empresa de ônibus nos andes...), os serviços que consome são pautados por uma equação que não aquela do luxo: abre-se mão do quarto privativo para poder se passar mais noites numa determinada cidade, anda-se de meios de transporte coletivos ou bicicleta, e não se aluga carros, roupa boa é a que aquece, é leve, não suja, não amassa, e não a bonita, e não se expõem marcas caras para não chamar atenção dos amigos do alheio que adoram furtar turistas, e o dinheiro que acumula com seu trabalho é para financiar suas aventuras e sua base territorial: morar numa casa simples e dar a volta ao mundo vale mais para o mochileiro do que morar numa mansão num condomínio fechado e pouco viajar.
Então, dentro da lógica sistêmica capitalista contemporânea, do capitalismo turbinado das finanças e marcas, o mochileiro é um problema: ele não é alguém que foi excluído do sistema, pela pobreza extrema que aflige ¾ da população mundial: ele é alguém que recusa-se a enquadrar-se nesse sistema, embora tenha plena capacidade para tanto. Ele não compra por que não pode, mas por que não quer!"
- Mochileiro Tradicional:
"Os mochileiros tradicionais são caracterizados como turistas que se organizam de forma independente, se informam previamente sobre os aspectos históricos e culturais do local a ser visitado, realizam uma prolongada jornada contada em meses ao invés de dias, de múltiplos destinos, com um itinerário flexível, utilizam serviços econômicos de alimentação, de meios de transporte e de acomodações mais por opção do que por limitação financeira. Eles costumam viajar sozinhos ou com apenas um acompanhante, mas não descartam a possibilidade de conhecer outros mochileiros durante a viagem e continuar a jornada inteira ou parte dela com as novas companhias. "
http://www.mochileiros.com/
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